HUGO BORDEIRA A Federação dos Sindicatos dos
Trabalhadores das Indústrias Eléctricas de Portugal
(FSTIEP) afirma que existem quatro mil trabalhadores, num
universo total de 20 mil, com doenças profissionais
provocadas pelas suas actividades em empresas fabricantes
de componentes eléctricos e electrónicos para a
indústria automóvel (principalmente montagem de
cablagens e fabrico de auto-rádios) .
O número foi avançado ao DN pelo dirigente sindical
Rogério Silva, que afirma que estes elementos foram
apurados através de um inquérito a nível nacional, de
informações recolhidas junto das empresas e de dados do
Centro Nacional de Protecção Contra os Riscos
Profissionais.
No entanto, estes números foram categoricamente
desmentidos por Maria Manuel Godinho, directora daquela
entidade, que sublinhou que «estão completamente
desviados da realidade». Sem avançar dados concretos,
por enquanto, aquela responsável adiantou que «num
estudo realizado há alguns anos apurou-se a existência
de doenças profissionais em apenas 1,1% do universo de
trabalhadores» pertencentes às indústrias eléctricas
dedicadas ao fabrico de componentes para automóveis.
Rogério Silva aponta a proliferação de tendinites como
o principal problema, acusando a Inspecção-Geral do
Trabalho de «não corrigir os processos produtivos de
forma a adaptá-los à actividade humana». Aquele
dirigente diz que o caso da Visteon, fabricante
norte--americano de sistemas electrónicos e de
climatização para automóveis, é a «situação mais
complexa de saúde ocupacional em Portugal». Na unidade
de Palmela daquela multinacional, afirma, «existem 450
trabalhadores de baixa com tendinites nos pulsos», num
caso que se arrasta há três anos.
«Há dois anos foi criada uma comissão que integrava
delegados sindicais, inspecção do trabalho, comissão
de trabalhadores e representantes da empresa, mas depois
de se fazer um inquérito o estudo parou
inexplicavelmente», afirma aquele sindicalista. O DN
tentou confrontar a Visteon com estes elementos, mas não
foi possível contactar qualquer responsável durante a
tarde de ontem.
Num documento que será entregue hoje ao ministro da
Segurança Social e do Trabalho, Bagão Félix, durante
uma concentração de protesto organizada pela FSTIEP,
são também referidas situações de doenças
profissionais na Valeo, Pioneer, Grundig, Blaukpunt, Lear
e Tyco, todas elas multinacionais das indústrias
eléctricas que produzem componentes para automóveis.